sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Síndrome da Catástrofe Antecipada

Há duas semanas, eu tinha uma palestra pra apresentar em uma multinacional importante. Redes Sociais e o mercado B2B, coisas que eu saberia falar numa boa. E depois de passar tudo o sufoco e quase parir um filho, eu cheguei à conclusão de que eu sofro da síndrome da catástrofe antecipada. Funciona mais ou menos assim:

Quando eu tenho que falar em público, seja uma palestra, uma apresentação de produto ou whatever, eu não costumo ensaiar. Primeiro porque eu me sinto uma imbecil treinando com um espelho. E segundo porque eu parto do pressuposto que, se eu tenho domínio do assunto no qual eu vou falar, não preciso ficar de enrolação. Eu simplesmente abro a boca e as palavras vão saindo.

Só que, esse excesso de segurança sempre se torna um pesadelo um dia antes do evento. Dá-lhe gastrite, dá-lhe insônia, e quando eu consigo finalmente pegar no sono, o despertador toca dois minutos depois, avisando que não tem mais jeito, o negócio é abusar da maquiagem pra espantar a cara de sono.

E é aí que começa o meu tormento de verdade. Toda vez que eu vou fazer algo do tipo, eu vou prevendo possíveis acidentes que possam me isentar da responsabilidade.

Eu acordo torcendo pra ficar rouca. Nada. Uma dor de barriga. Nada. Os minutos passando. Saio pra comprar café na esperança de torcer o pé. Nada. Volto pra casa, como e ligo pro táxi. E torço pra ele furar o pneu comigo dentro. Ou pegar um daqueles engarrafamentos históricos. Mas não, o trânsito flui normalmente e em cinco minutos eu tou lá. Procuro a recepcionista e ela diz que eu estou adiantada, as outras pessoas ainda não chegaram.

Ok, se o meu pneu não furou, ainda existe a possibilidade do de alguém furar. É isso, por isso que eles estão demorando. Daqui a pouco meu celular toca dizendo que não vai rolar palestra.

Aí todo mundo chega, e a gente sobe pra organizar as coisas.

O notebook podia estar descarregado. Ou cair no chão e estragar pra sempre. Quem sabe se eu derrubar café em cima dele sem querer? O projetor podia não ser compatível.

As pessoas começam a entrar na sala, e se ajeitarem para a palestra.

Será que tem alguém cardíaco? Podia rolar um princípio de enfarto. Mas só um princípio mesmo, pra dar um sustinho. Ou a diretora receber uma ligação urgente daquelas que todo diretor recebe e ela ser cancelada.

Começa a palestra. Ela seria dividida em duas partes, e eu cuidaria da segunda. Ou seja, mais 30 minutos pra alguma coisa acontecer.

Um avião podia chocar contra a empresa, numa área onde não tivesse ninguém. Ou um foco de incêndio surgir do nada. E se o Cloverfield fosse real?

A apresentação dele acaba, começam as palmas. Fudeu, é minha vez.

E se eu desmaiasse? Fingir um ataque de epilepsia será que rola? Ou um surto psicótico e sair correndo e gritando com os braços abertos?

Mas aí não tem mais jeito, chegou a minha vez. Então eu começo a falar, e o nervosismo vai se esvaindo aos poucos. No final, eu nem lembro mais de ter ficado nervosa. O resultado é a sensação de que eu fiz bem feito. Mas não tem jeito. Eu sempre vou antecipar catástrofes.

Um comentário:

Tessa disse...

Nossa... eu passo pela mesma coisa, toda vez que tenho que fazer uma apresentação. E no final das contas sempre me saio bem. :)